Análise Fundamentalista: Tudo o que você precisa saber

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No mercado de ações uma das ferramentas mais utilizadas é a análise fundamentalista.

A análise fundamentalista consiste no estudo detalhado da empresa, o que compreende desde a sua saúde financeira, performance, eficiência operacional e posicionamento no setor de atuação, como o estudo mais abrangente da economia e variáveis macro que possam afetar seus negócios.

Seu objetivo é encontrar empresas que possuam uma situação diferente daquela que o mercado enxerga, ou seja, empresas fundamentalmente fortes que estejam desvalorizadas no mercado acionário, assim como empresas vulneráveis que estejam sendo negociadas acima do valor considerado justo, pela análise.

Muitos investidores utilizam esta análise unicamente, porém, ela também pode ser utilizada em conjunto com outras técnicas para compor uma estratégia mais ampla de investimentos.

Este tipo de análise tem como uma de suas principais características o horizonte de longo prazo. Investidores utilizando esta estratégia geralmente analisam oportunidades de investimentos que podem levar meses/anos para trazerem os resultados ambicionados.

Quando olhando o investimento em ações, temos que o retorno para o investidor vem na forma de dividendos e ganhos de capital. Quando trazemos a análise fundamentalista para maior detalhamento, entretanto, vemos que o driver principal não só do primeiro, quanto do segundo, advém essencialmente dos lucros da empresa.

Desta forma, a análise fundamentalista busca entender os lucros passados e presente da empresa, da suas fontes principais, consistência e recorrência, para assim trazer uma estimativa o mais aderente possível de lucros futuros.

No limite, isso irá mostrar o real valor da empresa, que é refletido em sua ação negociada no mercado.

Principais ferramentas da Análise fundamentalista

A principal fonte de informações na análise fundamentalista vem das divulgações de resultados da companhia. No caso de empresas de capital aberto, estas divulgações costumam ter a periodicidade trimestral, sendo a divulgação anual do resultado a mais completa.

Nelas é possível entender a origem dos resultados da empresa bem como a evolução deste ao longo dos anos nos principais indicadores econômico/financeiros.

Assim, dentre as ferramentas utilizadas por esta escola, podemos destacar as seguintes classes:

  • Indicadores financeiros;
  • Analise qualitativa da empresa;
  • Indicadores macroeconômicos.

Indicadores Financeiros

Indicadores financeiros expressam as relações entre itens das demonstrações financeiras. Dentro das demonstrações financeiras as principais informações vêm do:

  • Balanço Patrimonial,
  • Demonstração de Resultados do Exercício e
  • Demonstrações do Fluxo de Caixa.

Com elas, o investidor pode extrair os indicadores financeiros mais relevantes para seguir com sua análise fundamentalista.

Os indicadores financeiros podem ser divididos nas seguintes classes:

  1. Indicadores de liquidez;
  2. Indicadores de eficiência;
  3. Indicadores de lucratividade:
  4. Indicadores de alavancagem/solvência;
  5. Indicadores de cobertura;
  6. Indicadores de precificação.

1) Indicadores de Liquidez

Estes indicadores mostram a capacidade de a empresa honrar suas obrigações de curto prazo. Assim, levam em consideração os ativos circulantes, de rápida conversão, assim como os passivos circulantes.

Dentre os principais itens do ativo circulante de uma empresa, temos os estoques, conta de recebíveis de clientes e caixa disponível em bancos/aplicações financeiras de curto prazo. Dentre os principais itens do passivo circulante temos empréstimos de curto prazo e de longo prazo a ser paga dentro de um exercício social, conta de pagáveis aos fornecedores e passivos acruados (salários, impostos, etc).

O principal indicador de liquidez é a liquidez corrente, encontrado dividindo-se o ativo circulante pelo passivo circulante.

Liquidez corrente = Ativo Circulante / Passivo Circulante

Um índice maior que um indica que a empresa consegue pagar suas responsabilidades de curto prazo com seus ativos de rápida conversão. Inversamente, uma empresa com este indicador inferior a um pode sinalizar uma dificuldade futura no pagamento de suas obrigações de curto prazo. Num cenário econômico negativo, estas empresas costumam ser as que mais apresentam dificuldades na manutenção das operações.

Um outro índice de liquidez também utilizado é o de liquidez seca. Neste, é excluído o item estoque do ativo circulante. Isto é utilizado por muitos analistas para colocar sob perspectiva a situação onde a empresa não consiga converter o estoque em recurso num prazo curto de tempo, trazendo à luz uma métrica mais aderente de geração de recursos para pagamento de obrigações iminentes. Segue a fórmula:

Liquidez seca = Ativo circulante – estoque / Passivo circulante

O índice mais restrito é o de liquidez imediata, que considera nos ativos de rápida conversão apenas o caixa, saldos bancários e aplicações financeiras de liquidez imediata. Chamam-se esses ativos de disponível.

Liquidez imediata = Disponível / Passivo Circulante

Esses são os principais índices de liquidez utilizados na análise fundamentalista. Eles auxiliam, em conjunto com as outras classes de indicadores, no entendimento sobre a operação da empresa, e assim encontrar oportunidades de investimentos.

 

2) Indicadores de eficiência

Também denominados indicadores de atividade, buscam explicar a eficiência na gestão de ativos e passivos da empresa, visando maximizar o seu lucro e geração e caixa.

Os principais indicadores são relacionados ao estoque, pelo Prazo Médio de Estocagem (PME), contas a pagar, pelo Prazo Médio de Pagamento (PMP), contas a receber, pelo Prazo Médio de Recebimento (PMR) e receita/ativo total, pelo Giro do Ativo. Com esses dados, é possível auferir os ciclos operacional e financeiro. No escopo deste texto, não iremos aprofundar sobre formas de se chegar nestes prazos médios, e sim trazendo a definição destes.

Prazo Médio de Estocagem

O PME mostra o prazo médio que o estoque fica na empresa, da sua compra até a sua venda, não levando em consideração o recebimento por esta venda. Imagine que metade do estoque seja vendido em 10 dias e a outra metade em 20 dias. Logo, o PME será de 15 dias. Desta forma, quanto menor o PME, melhor, pois mostra que a empresa trabalha seu estoque de forma expediente, evitando desperdícios e ociosidade.

Prazo Médio de Recebimento

O PMR refere-se ao prazo médio que a empresa leva para receber por suas vendas. Imagine que metade do valor das vendas tenha sido feito com pagamento à vista, e a outra metade feita com pagamento para 30 dias. Assim, o PMR será de 15 dias. Assim como o PME, o PMR também é melhor quanto menor for o número, pois mostra que a empresa tem um prazo de recolhimento rápido para suas vendas. Isto sinaliza uma boa condição de negociação da empresa com seus clientes.

Prazo Médio de Pagamentos

O PMP diz respeito ao prazo que a empresa tem, em média, para pagar seus fornecedores. Imagine que a empresa pague metade das suas compras em 30 dias e a outra metade em 60. Logo, seu PMP será de 45 idas. Diferente do PME e PMR, este indicador é melhor quanto maior for o número, pois mostra um prazo maior para a empresa pagar suas obrigações, aliviando o capital de giro.

Entendendo esses três conceitos conseguimos avançar para o estudo dos ciclos dentro da empresa.

Ciclo Operacional

O ciclo operacional refere-se ao tempo levado para receber o pagamento pelas suas vendas, contado a partir do momento que o estoque é comprado. Logo, mede quanto tempo a empresa leva para converter sua operação em caixa, ou seja, a compra de mercadorias, a venda delas, e o recebimento por elas. Quanto menor for o ciclo operacional, menor será a dependência dela em seu capital de giro.

Como exemplo, vamos pensar uma empresa que leva 32 dias para vender seu estoque, e 16 dias em média para receber pela venda.

Ciclo Operacional = PME + PMR

Ciclo Operacional = 32 + 16 -> 48 dias

Ciclo Financeiro

O ciclo financeiro leva o ciclo operacional, subtraindo o tempo que a empresa leva para pagar seus fornecedores. Em outras palavras, seria o período que se leva entre a saída de recursos oriundos da compra de mercadorias, para o recebimento pelas vendas dos produtos. É também chamado de ciclo de caixa. Seguindo no exemplo, imaginemos que a empresa tenha um PMP de 30 dias. Assim, o ciclo financeiro será:

Ciclo Financeiro = PME + PMR – PMP

Ciclo Financeiro = Ciclo Operacional – PMP

Ciclo Financeiro = 48 – 30 -> 18 dias

Ou seja, a empresa fica 18 dias “descoberta” em suas vendas no ciclo, necessitando, assim, de capital de giro para financiar suas operações.

Uma forma de análise útil é a da evolução destes ciclos ao longo dos anos. Isto mostra o comprometimento e a capacidade da empresa em buscar uma melhor gestão do capital de giro, assim como irá se refletir no controle da dívida de curto prazo.

Outra fonte rica de análise é a de comparar tais índices com os de empresas de um mesmo setor, pois assim fica mais nítida a questão da eficiência numa operação semelhante.

Giro Total do Ativo

Um último índice de eficiência é o de Giro Total do Ativo. Este é encontrado dividindo a receita líquida do período pelo ativo total médio do período. Para encontrar o ativo total médio, tem que se levar o ativo inicial e o final e tirar a média.

Ativo médio do período = Ativo Total inicial + Ativo Total final

                                                                               2

Giro Total do Ativo = Vendas Líquidas / Ativo médio do período

Este índice mostra a eficiência de uma empresa no uso de seus ativos para a geração de receita. Este índice varia entre indústrias, tornando útil, novamente, a comparação entre empresas do mesmo setor.

Esta classe de indicadores é muito utilizada por bancos na concessão de crédito a empresas. Por mais que se trate de uma esfera diferente à do investidor em ações da empresa, isto pode sinalizar, de forma antecedente, uma deterioração no rating de crédito da companhia, o que pode, subsequentemente, se propagar para o seu valor de mercado, reduzindo-o, em vista de um aumento no risco global da empresa.

Assim, essa classe torna-se relevante, também, como uma fonte auxiliar e preditiva no resultado geral do investimento.

3) Índices de Lucratividade

Neste post iremos tratar dos indicadores de lucratividade na análise fundamentalista.

Índices de lucratividade são métricas financeiras utilizadas para medir a habilidade da empresa gerar lucros em relação às suas vendas, ativos empregados e capital investido pelos sócios.

Desta forma, estes são subdivididos em duas classes:

Índices de Margem

  • Margem bruta
  • Marem operacional
  • Margem líquida

Índices de Retorno

  • Retorno sobre o Ativo
  • Retorno sobre o Patrimônio
  • Retorno sobre capital

 

Índices de Margem

Estes índices buscam mostrar a capacidade da empresa em gerar renda em relação às suas vendas. A principal fonte de informações para extrair tais números vem da Demonstração de Resultados do Exercício (DRE).

A margem bruta é o resultado do lucro bruto dividido pelo faturamento líquido (líquido de descontos, abatimentos e devoluções). Posto de outra forma, mostra a margem que a empresa tem no seu produto em relação ao seu custo.

Margem Bruta = Lucro Bruto / Receita Operacional Líquida

A margem operacional é o resultado do lucro operacional dividido pelo faturamento líquido. Este indicador mostra qual a margem que a empresa possui em relação ao seu processo completo de produção, considerando, além dos custos de produção, suas despesas operacionais, como os gastos com vendas e administrativo.

Margem Operacional = Lucro Operacional / Receita Operacional Líquida

A margem líquida resulta do lucro líquido dividido pelo faturamento líquido. Assim, este é também chamado de indicador de última linha (bottom line), que mostra o quanto das vendas sobra para o bolso dos sócios. Para se chegar no lucro líquido, “descendo” do lucro operacional, deduz-se as despesas não operacionais (a principal sendo a despesa financeira), não recorrentes e impostos.

Margem Líquida = Lucro Líquido / Receita Operacional Líquida

Quando analisando estes três indicadores, o investidor deve colocá-los à luz do setor que a empresa se insere. Setores como o de exploração de petróleo, por exemplo, possuem margens liquidas baixíssimas, enquanto o setor financeiro possui margens expressivas. Outra prática útil é a de analisar a evolução destes indicadores, para que se possa entender as transformações na operação da empresa, e onde ela está sendo afetada ou beneficiada ao longo do ciclo econômico.

Dentro do universo de indicadores de margem muitos investidores acabam por utilizar outras métricas, menos usuais. Entre elas, destacamos: margem sobre fluxo de caixa e margem EBITDA.

Índices de Retorno

Indicadores de retorno são utilizados para medir a capacidade da empresa em gerar retorno para seus acionistas. Os indicadores mais utilizados nesta classe são: retorno sobre o patrimônio, retorno sobre o ativo e retorno sobre o investimento.

Retorno sobre o patrimônio

Comumente chamado de ROE (do inglês Return on Equity), mede o retorno sobre o montante investido pelos acionistas da empresa, ou seja, o lucro obtido por valor de patrimônio da empresa.

Retorno sobre o patrimônio = Lucro Líquido / Patrimônio Líquido Médio

Aqui vemos a utilização do Patrimônio Líquido Médio, ou seja, a ponderação do PL inicial e o final. Isto se deve, pois, o lucro líquido é extraído da DRE, um informe que considera o resultado do período completo (ano, por exemplo), enquanto o PL é retirado do Balanço Patrimonial, que é uma “fotografia” da situação patrimonial da empresa, não considerando a evolução. Desta forma, sempre que o investidor estiver fazendo uma construção de índice que envolva um item da DRE e outro do BP, torna-se necessário esse ajuste.

Retorno sobre o ativo

Chamado de ROA (Return on Assets), é a medida do lucro líquido da empresa em relação ao total de ativos. Assim, serve para mostrar a eficiência da gestão em usar os ativos da companhia para a geração de renda para os acionistas. Também mede a intensidade de ativo da empresa. Quanto menor o lucro por real em ativo, mais intensiva em ativo essa empresa é. Empresas altamente intensivas em ativo necessitam de grandes investimentos em máquinas e equipamentos para gerar retorno. Exemplos de indústrias são telecomunicações, montadoras automobilísticas e exploradoras de óleo e gás. Exemplos de indústrias com pouca intensidade de ativo são as de marketing e software. Logo, a comparação utilizando este indicador é mais precisa com empresas do mesmo setor.

Retorno sobre o ativo = Lucro Líquido / Ativo Total Médio

Aqui a mesma ponderação é feita para o ativo total, uma vez que esta informação é retirada do BP.

Retorno sobre o capital

Também chamado de retorno sobre o capital investido (ROIC, return on invested capital), representa o lucro gerado por todos os provedores de capital. Desta forma, é uma medida semelhante ao ROE, porém mais abrangente, pois engloba os credores da empresa. Este indicador de retorno possui algumas variações no uso de inputs, especialmente no que tange à medida de lucro utilizada. Há três principais formas: lucro líquido acrescido de impostos; lucro operacional, ou seja, lucro antes de juros e impostos (EBIT, em inglês); e lucro operacional líquido antes de impostos (net operating profit after tax, NOPAT). Este último é preferido por analistas. Trata-se de uma medida não contábil, pois ela basicamente desconta o imposto do lucro antes dos juros, e, efetivamente, o imposto é aplicado após essa dedução.

Retorno sobre o capital investido = NOPAT / Capital investido médio

Capital investido representa o montante de Patrimônio Líquido e Passivo Financeiro da empresa, descontado o excesso de caixa. Este último seria o caixa acima do necessário para cobrir as operações do dia-a-dia.

No caso do investidor não profissional, uma forma de simplificar este indicador seria utilizar o lucro operacional aplicando uma média de tributação da empresa, exemplo: percentual de imposto de renda PJ e contribuição sobre o lucro líquido nos últimos três exercícios em relação ao lucro operacional. No caso do capital investido, seria utilizar o PL e empréstimos e financiamentos no balanço patrimonial, descontando um percentual do caixa da empresa, 20-30% usualmente. Em publicações futuras abordaremos este indicador com mais detalhe, dado a sua importância e variações no seu uso.

Novamente, o investidor deve buscar empresas com um ROIC acima de seus pares na indústria, e compará-lo em conjunto a outros indicadores.

Boa parte destes indicadores são encontrados em veículos de informações de mercado financeiro, ou até mesmo no site de relação com investidores da empresa.

4) Índices de solvência e estrutura de capital

Quando falamos de alavancagem e solvência, os termos são de certa forma análogos. Enquanto o primeiro trata sobre quanto a empresa está usando de capitais de terceiros para potencializar os ganhos com seu capital próprio investido, o segundo trata de quão capaz a empresa é em quitar seus compromissos com terceiros.

Assim, cabe ao investidor, ao analisar uma empresa como possível investimento no mercado de capitais, entender qual o investimento que este busca fazer, seja de compra de dívida ou de participação na empresa (ações, papéis conversíveis, derivativos), para melhor tomada de decisão. Estrutura de capital seria a composição do capital entre capital de terceiros e capital próprio.

O indicador de alavancagem financeira, também chamado de multiplicador do Patrimônio Líquido, é encontrado pela divisão do ativo total de empresa dividido por seu patrimônio líquido. Assim, considerando que uma empresa pode se financiar com dívida ou capital próprio, um indicador alto aqui mostra uma empresa que se utiliza de bastante dívida para se financiar.

Alavancagem Financeira = Ativo Total / Patrimônio Liquido

Este indicador também é importante para a análise de DuPont, que falaremos em post futuros, que serve para identificar as fontes de retorno dos acionistas da companhia.

O grau de endividamento total (em inglês debt ratio ou debt to assets ratio) serve para mostrar qual porção dos ativos de uma empresa é financiado com capital de terceiros.

Grau de endividamento total = Passivo Total / Ativo Total

Uma empresa com indicador superior a 0.5 (ou 50%), indica uma condição de alavancagem, ou seja, ela recorre a capital de terceiros de forma relevante para financiar seus ativos. Uma empresa com alto grau de alavancagem pode sofrer negativamente em um cenário de redução de liquidez na economia, aperto nas condições de crédito, ou mesmo em ciclos desfavoráveis para seu setor de atuação (redução no fluxo de caixa da empresa), o que poderá gerar problemas de insolvência

O índice de composição do endividamento mostra como é a disposição da dívida da empresa, com relação ao seu prazo. É encontrado, desta forma, dividindo-se a dívida de curto prazo pela dívida total.

Composição da dívida = Passivo Circulante / Passivo Total

Assim, o investidor pode acompanhar a evolução neste indicador para saber se a empresa recorre a financiamento de curto ou longo prazo para sua operação, e compará-lo com outros indicadores de capital de giro, que demonstrarão se a empresa esta recorrendo à forma correta de captação.

O índice de participação de capital de terceiros (em inglês, debt to equity ratio), mostra a relação entre financiamento advindo de credores e investidores.

Participação de capital de terceiros = Passivo Circulante + Passivo Exigível de Longo                                                                            Prazo / Patrimônio Liquido

Um índice de 1 mostra que o capital de terceiros e o capital próprio estão sendo usados na mesma proporção para financiar a empresa. Um indicador muito alto mostra uma situação de alavancagem perigosa, onde algum aperto de liquidez no mercado, ou mesmo sazonalidade nas receitas da empresa, podem afetar relevantemente a saúde financeira da companhia.

O indicador de dívida líquida / Ebitda, como é comumente utilizado no mercado, mostra a relação entre o endividamento liquido da empresa e a geração de caixa operacional, medido pelo lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização (Lajida em português, mas mais utilizado do inglês, Ebitda). Entraremos mais no detalhe sobre essa medida de geração de caixa operacional em outro post futuro. O conceito aqui é medir a capacidade de a empresa pagar sua dívida olhando sua geração de fluxo de caixa. Um indicador alto ou crescente mostra um risco elevado de insolvência da empresa. Apesar de ser um indicador que varia entre setores, uma referência média seria entre 2,5 e 3,5.

Dívida liquida / Ebitda = Passivo Financeiro – Caixa e aplicações com liquidez imediata /                                                Lucro antes dos juros, impostos, depreciação e amortização

O indicador de imobilização do patrimônio líquido mostra o percentual do patrimônio líquido que é destinado ao financiamento do ativo permanente da empresa. Um índice alto pode demonstrar um cenário em que a empresa tenha dificuldades em financiar seu ativo circulante, logo, maior será a dependência de capital de terceiros para financiar seu giro. Aqui, o investidor deve buscar um resultado inferior à 0,60, sempre tentando entender o setor de atuação da empresa em análise.

Imobilização do PL = Ativo Permanente / Patrimônio Líquido

Por fim, a análise dos indicadores mencionados aqui ajuda o investidor a melhor compreender a situação de uma empresa na qual ele esteja interessado em investir, ou mesmo decidir se faz sentido a manutenção do investimento já feito.

Importante ressaltar que nem sempre uma empresa com alto grau de alavancagem necessariamente seja algo ruim. No caso de uma companhia que tenha um custo de financiamento inferior ao retorno das suas operações, será bem-vindo tal financiamento para incrementar o retorno aos seus acionistas. A questão seria entender qual é este ponto ótimo de alavancagem, pois a medida que ela aumenta, também aumenta o custo de financiamento por parte dos credores, em vista de uma elevação na percepção de risco por estes.

5) Índices de cobertura

Dando sequência em nossa análise fundamentalista, agora falaremos sobre índices de cobertura. No post anterior falamos dos indicadores de solvência, que mostram a estrutura de capital da empresa, assim como seu grau de alavancagem. Os índices de cobertura buscam, por sua vez, mostrar a capacidade da empresa em honrar seus compromissos financeiros, apresentando formas diferentes de fazer este pagamento (ex: com o ativo da empresa, ou com a geração de lucro operacional, etc). Estão, desta forma, interligados com os indicadores de solvência, sendo o resultado da estratégia traçada pela empresa.

O índice de cobertura de juros busca mostrar a capacidade de a empresa pagar as despesas financeiras correntes com sua geração de caixa operacional. Este indicador, na convenção internacional, também é chamado de “times interest earned” (TIE), pois representa quantas vezes o resultado operacional pode pagar os juros correntes de sua dívida. Desta forma, este é um indicador “maior melhor”, onde a prática de mercado mostra um número mínimo sendo de 1,5x. Um indicador alto mostra uma empresa que possui bastante “fôlego” para pagar o custo de seu endividamento, podendo superar ciclos econômicos, com seus possíveis declínios em receitas, sem grandes turbulências.

Índice de Cobertura de Juros = Ebit / Despesas Financeiras

Ebit, lembrando, é um termo do inglês para lucro antes dos juros e impostos, Lajir. Por definição, o pagamento de juros da dívida aparece no balanço da empresa como despesas financeiras.

O índice de cobertura do serviço da dívida visa demonstrar a capacidade da empresa em pagar não somente a despesa financeira, mas também o pagamento de principal da dívida, ou seja, quando a empresa toma um empréstimo, este pode ser pago somente ao final, ou com pagamentos parcelados no decorrer do prazo. Assim, esta amortização também pode impactar a saúde financeira da empresa, caso este montante seja muito relevante frente à geração de recursos dela.

Índice de Cobertura do Serviço da Dívida = Ebit / Pagamento de principal + despesas financeiras

Este índice é bastante utilizado por gerentes corporativos de bancos, pois mostra a capacidade de a empresa honrar seus empréstimos. Para o investidor, é importante pois tal percepção impacta diretamente o preço das ações no mercado, visto que os acionistas são os últimos a receber, caso a empresa fique insolvente. Aqui, um indicador inferior a 1 demonstra risco de cobertura.

O índice de cobertura do ativo mede a capacidade de a empresa pagar suas dívidas com seus ativos, ou seja, se precisasse se desfazer dos ativos para pagar seus credores. Assim, para se chegar nesse indicador, é importante ajustar o valor do ativo, descontando os ativos intangíveis, bem como as obrigações não financeiras de curto prazo. Os principais ativos intangíveis de uma empresa geralmente são referentes a patentes, licenças de uso e ágio em aquisições de ativos ou outras empresas. Tais valores não podem ser transformados em caixa no evento de liquidação (apesar de patentes e royalties terem valor no caso de um processo de fusão/aquisição). Entre as obrigações não financeiras de curto prazo mais comuns, estão: salários a pagar, fornecedores e obrigações tributárias.

Índice de cobertura do ativo:

Ativo Total – Ativo Intangível – (Passivo Circulante – Dívida de Curto Prazo) / Dívida Total

Uma limitação no uso deste índice é que ele utiliza o valor contábil dos ativos, e não o seu valor de mercado. Assim, não é um número preciso que poderia ser alcançado caso os ativos fossem liquidados no mercado.

É um indicador bastante utilizado nos setores industriais e de utilities. Como regra geral, um indicador acima de 1,5x é considerado desejável, variando entre setores de atuação.

O índice de cobertura do caixa mostra a capacidade de a empresa honrar suas despesas financeiras anuais utilizando seu caixa disponível. É, assim, uma métrica mais conservadora de cobertura, uma vez que não considera nenhum outro tipo de ativo.

Índice de cobertura do caixa = Caixa Imediato / Despesas Financeiras

Este é um índice que varia bastante entre setores. Desta forma, é aconselhável fazer uma análise de pares, ou seja, entre empresas do mesmo setor de atuação, para conseguir uma melhor compreensão sobre o resultado.

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